domingo, 14 de novembro de 2010

Por uma cultura política da participação!



A recordação da independência do Brasil faz-nos refletir sobre a vida política brasileira. O quadro pintado por Pedro Américo, retratando este fato de nossa história, evidencia um traço marcante de nossa cultura política, isto é, que o povo está sempre "assistindo" aos fatos políticos, ao invés de participar deles diretamente. No referido quadro, o povo está representado no carrero, que aparece ao lado do que está acontecendo, atônito, sem ter participação ativa. A pintura sugere que alguns iluminados sabem o que é bom e o realizam "para" o povo, não "com" o povo.

Isto está dentro de uma visão política herdada da cultura lusitana, que tinha em seu imaginário coletivo o mito do "salvador iluminado", o jovem rei Dom Sebastião, desaparecido em combate, que o povo acreditava que não havia morrido e que voltaria para resolver todos os problemas do reino. Todos aguardavam com ansiedade seu retorno. Com isso, as pessoas desincumbiam-se da tarefa de construir o presente, e remetiam tudo a "alguém" que faria isto por eles.

Nem é preciso salientar o quanto é politicamente nefasta esta mentalidade, incorporada ao imaginário coletivo brasileiro e, por ainda, à prática política dos que se revezam no poder, sendo que a própria democracia representativa reforça esta cultura. A participação do povo é formal, e resume-se a comparecer às urnas no pleito eleitoral. Daí em diante, como carrero do quadro de Pedro Américo, ele "assiste" o que supostamente fazem em seu nome.

Urge criar uma cultura política da participação, onde as pessoas sejam protagonistas da política, não somente eleitores, aproveitando canais que favoreçam a sua efetiva e decidida presença nas decisões políticas. Não somente isto, mas também educar politicamente o povo libertando-o da mentalidade do "salvador da pátria", empecilho para uma verdadeira cidadania.

Não podemos ficar assistindo ao que fazem por nós, menos ainda aceitar passivamente ser excluídos dos centros decisórios. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Foram palavras de Padre Antonio Aparecido Alves (Toninho)
Mestre em Ciências Sociais e Doutor em Teologia.
Pároco na paróquia São Benedito do Alto da Ponte

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